
Há quem diga que escrever cartas de amor é brega, mas quem se importa? Hoje, tudo o que eu quero é apagar esse adeus do olhar, dar rédeas à saudade e a essa mania de falar de amor quando a canção da chuva toca, de leve, na janela do meu quarto anunciando que a próxima estação está chegando. Porém, essa é uma carta de despedida.
Uma carta de amor escrita, agora, é para te dizer que o meu corpo reclamou a tua ausência e que a lingerie macia cansou de esperar pelo toque das tuas mãos. É o amor se despedindo por falta de esperança! Por isso, nesse momento, os meus dedos deslizam sobre o teclado falando das coisas que eu não vivi e dos amores tardios.
Na memória do tempo eu escrevi a anatomia do meu amor, as delicadezas do coração e as inesperadas doçuras que me assaltavam quando eu esperava, ansiosamente, tu surgires na esquina da minha rua. Tudo parece dormir, ainda, para prolongar a juventude dos meus sonhos, entretanto, perplexa, vejo que envelhecemos: tu e eu.
Envelhecemos: tu e eu, mas ainda é amor o que eu sinto.
A menina-mulher para quem, um dia, tu te enfeitaste, permanece aqui do lado esquerdo do peito. Coração não fica velho. Adoece! E a menina em flor, que desenhava o teu nome, nos muros, a giz, ainda está aqui: lembra-te de mim?
Envelhecemos tu e eu, mas ainda é doce e terno o que eu sinto, embora o tempo de lavrar a terra dos meus sonhos tenha acabado e o amor, hoje, seja só fonte de murmúrios, de cicatrizes e de poucas saudades...
Há uma dor plangente em cada palavra que escrevo por todos os momentos de ternura, de carinho e de desejo, que foram abortados na varanda da casa solidão, onde tu me deixaste. Mas, ainda é amor o que eu sinto. Amor de saudades! Saudades não vividas... E, agora? Onde encaixo o meu desejo e a minha ternura? Está tudo aqui, ainda, esperando pelo toque das tuas mãos e pelo encontro do teu olhar.
Envelhecemos: tu e eu. Mas, o amor, não! Ele não quer se despedir. Vive rodopiando em fantasias tentando garimpar alguma lembrança de nós dois que valha à pena, mas só encontra o desconforto do teu silêncio. Um lugar para aonde tu te evadiste por medo de sofrer... Envelhecemos, nesse espaço entre a tua indecisão e o teu desejo de ser feliz.
Por isso, hoje, essa carta. Só para te lembrar que envelhecemos: tu e eu. O tempo não esperou por nós, não carimbou os nossos sonhos com o selo da eternidade e, agora, estou aqui só para me despedir. O amor permanece, mas eu vou embora. Já falei demais das minhas dores e dos meus sangramentos. Algo me diz: Vá! É hora de partir. E, eu vou. Adeus!
OBS: Imagem - http://www.facebook.com/sanatvar