Querida Manu,
Nas folhas do outono espalhadas pelo chão do esquecimento eu vejo escritas as páginas da vida, o tempo passado e a beleza enrugada de uma época que não volta mais. A cor das folhas lembra-me que a ferrugem carcomeu a caixa do correio, enterrando de vez a alegria e a esperança e, que a poeira do abandono cobriu dias, meses e anos deixando para trás uma saudade doída de um período feliz que passou. Olho novamente para as folhas, como quem procura tinta para continuar desenhando os seus sonhos, mas percebo que parte de mim já não se encontra mais ali. Tudo o que me sobrou desta fase são lembranças de gaveta que já nem abrem mais.
Então, pego carona no voo da gaivota e peço a Deus, em oração, que em 2015 me dê uma tela em branco para que eu possa pintar as minhas fantasias com cores mais vibrantes. Não vou mais pedir, ao dicionário, palavras emprestadas que me levem aos recantos da memória e que me tragam de volta à vida que perdi... O que passou, passou! Quero tudo novo... De novo! Cansei de amores requentados e de palavras vazias.
A escritora e jornalista Eliane Brum disse, em uma de suas entrevistas, que as pessoas morrem por que a gente silencia. É verdade! Embora, no meu caso, eu tenha sobrevivido... Por isso, quero a tela em branco. Nela, vou desenhar a vida e usar o despudor das palavras para escancarar o meu desejo, numa linguagem clara e inequívoca. Vou pintar a minha felicidade e acabar de vez com esse passado bolorento que me manteve presa nos vãos do tempo e nas molduras das fotografias. Cansei das pausas e dos silêncios... E, de romantizar o amor!
Hoje, o que mais desejo é pegar carona no voo desta gaivota e em suas asas me perder pelo chão do infinito, pois durante anos não fiz outra coisa senão fixar morada em terreno pétreo, acalentando um amor do passado e dando colo a saudades oriundas de uma solidão escolhida.
Quero, a partir de agora, amar despudoradamente e desmontar essa autossuficiência que me deixou imune ao carinho e ao vendaval das paixões. Quero dissecar a anatomia desse sentimento blindado que eu guardei por tantos anos e oferecê-lo a quem tenha a coragem de assumir que ele será eterno, apenas, enquanto dure... Assim é o amor em tempos modernos. Estou livre!
Dessa forma, querida amiga, eu termino esta carta te agradecendo o motivo da inspiração. Que a doce poesia do teu olhar capte, sempre, o melhor da vida e da paisagem. Obrigada!
PS: Crédito de Imagem: http://existeumolhar.blogs.sapo.pt/
4 comentários:
Viva os recomeços e as infinitas possibilidades de sempre se reinventar. E renascer. Que sejamos todos dignos dessa graça. Lindo texto, mãe.
Nós temos pela vida afora muitas gavetas já fechadas ,algumas cheias de boas lembranças outras nem tanto mas todas fazem parte da nossa história de vida.
Uma tela em branco é sempre necessário para que os recomeços se iniciem quando uma outra tela amarelou e morreu, como as folhas de outono.
Queria muito asas para voar até ti e abraça-la ,mando daqui os votos de um lindo Natal e 2015 todo para reescrever a felicidade completa que merece.
Abraços Julieta muitos abraços
Belo texto ,bela homenagem a Manu de quem também aprecio muito .
Oi, Julieta!
Pensar que o melhor da vida ainda está por vir, nos anima!! Que você ame muito e que seja reciproco!!
:)
Feliz 2015!
Beijus,
Saudades, Julieta. Obrigada por esse texto tão belo
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