
É tempo de deixar ir! De esquecer cores, cheiros, sons, passos e lembranças. Tempo de despedidas, de encerrar ciclos e de fechar portas. Literalmente! Ouço o som dos meus gemidos, mas aumento o volume da canção dos meus sonhos. Então, decidida, bato a porta e vou. Levo um coração sem amarras que é para abrigar as delicadezas da nova vida que vão chegar...
Despeço-me do passado!?
- Não sei! Uma palavra em suspenso, “ontem”, ainda mexe comigo: é o meu foco de resistência. Isso que me faz tecer palavras para não apagar memórias.
Quero resgatar uma época feliz para depois, deixar ir!... Fazer-se poeira de estrada, de estrelas e de sonhos.
Esse é o meu desafio! E por isso escrevo.
- Estou de mudança. A antiga casa com suas cores, cheiros, sons, passos e lembranças, vai ficando para trás. Então, eu me pergunto:
- Será que vai mesmo? Ou ela caminhará para sempre por minhas lembranças feito um viajante sem pouso?
- E, se isso acontecer? Estarei sendo paradoxal, com o meu saudosismo sempre em pauta, em contraposição com o desejo ir, de mudar?
- Como conciliar o passado e o presente se o tempo, esse “compositor de destinos”, trabalhou nas minhas lembranças com delicadeza, deixando-me um inventário de bens intangíveis?
O fato é que, agora, ao olhar cada cômodo da casa, eu revisito as saudades. E penso: o que é que eu tenho do futuro?
- Nada! Apenas um presente que vai virar passado, quando outras paisagens, histórias e personagens tecerem os fios dessa nova tessitura. Porém, a vida nunca mais será a mesma... Não, a vida das minhas emoções, aquele quartinho cheio de lembranças, ainda quente, do perfume dos dias felizes.
Olho em volta, tudo é saudades! O riso das crianças, a mesa posta, com mãos de ternura, a música, tantas coisas e, ainda, a marca da tua ausência que nunca passa...
Fomos construtores de um sonho que deu certo... A nossa casa, hoje, tem história. Uma história que a modernidade está querendo demolir, mas, que ao apagar das luzes e bater da última porta, não será esquecida, pois eu embalo coisas, fecho malas e tranco portas, mas, como um viajante sem pouso, levo as minhas raízes.