Sempre que eu
encontro o meu professor de redação, ele desafia-me com os seus temas de
improviso. Uma brincadeira que a esta altura não me rende sequer uma nota
mínima. É que andei desbotando as minhas saudades. Mas, como recusar um pedido
do querido mestre que ao longo dos anos ensinou-me a pontuar as minhas dores?
Refeita da
surpresa de vê-lo, assim, diante de mim, ao acaso, não resisti à tentação e
comecei a desfiar o meu rosário de queixas.
Ah! Professor,
não me peça para acordar as minhas lembranças, pois elas, agora, são permeadas
de reticências: daquilo que não fiz, do que não fui e do que não ousei. Doem, em mim, as folhas do tempo que eu não
vivi...
Queria um momento
que fosse da minha juventude, para desafiar convenções, regras e preconceitos.
Queria um instante apenas, para afrontar o destino que me fez covarde e
submissa.
Ousar! Essa é a palavra de ordem para qual eu nunca
dei ouvidos. Arriscar-se, atrever-se, decidir-se... Desarrumar a vida e
empacotar lembranças com cheiro de naftalina foi algo que não passou de um
intervalo entre a minha vontade e o meu medo. Medo de não saber reinventar a existência
dando-lhe um lugar para o imponderável.
Ah, como eu
queria - no passado - ter a visão do agora, onde me descobri portadora de
quereres e de desejos nunca antes experimentados. Uma pausa nos ponteiros do
relógio seria suficiente para que eu inventariasse as minhas dores e decidisse:
daqui pra frente tudo vai ser diferente... Mas, hoje, falta-me tempo e sobra
coragem!
Por isso, como
é finda a nossa conversa e só me restam duas “linhas”, termino a oralidade da
minha redação, dizendo: até outro dia, professor!
10 comentários:
Muito lindo te ler...Gosto muito, sempre que passo aqui!! beijos,chica
A falta de tempo é sempre um conceito relativo. Nunca é tarde, Juliêta!
Beijo :)
Oi Ju
Seu professor de Redação deve se orgulhar dessa aluna brilhante que sabemos voce foi.
A vida é um improviso e tanta coisa fica por viver!
Parabéns e obrigada pela boa maneira de expressar seu coração.]
com abraços
* Essas letrinhas embaralhadas nos comentários incomoda e não assegura nada , se puder vá em Configurações e exclua pra o bem dos seus leitores rs
obrigada
Concordo com a Lis, Julieta. Não deve ter sido à toa que após tantos anos o professor propusesse tal desafio. A gente está sempre reinventado-se em busca dos sonhos (que para mim, não realizados, apenas adormecem). E você , tem o condão de elevar a gente a um patamar onde há horizontes para o bem viver, seja em que época ou idade for. Abraço grande, Julieta. Paz e bem.
Olá Juliêta, obrigado pelo comentário. Vc tem razão na sua constatação, mas concorda que independente das dores - o amor é lindo !!!!!!
Bjs do ZC
e pra reconstruir a própria história fora desse "intervalo entre a minha vontade e o meu medo"... começo por onde?
emprestar nome a tudo isso que se tem no peito, mesmo quando triste, é tão bonito! :)
um beijo!
O professor deve-se orgulhar da aluna!
Bjo
Não sei porque, mas ao ler o que escreveu me veio uma frase que carrego a tiracolo, do meu guru Mario Quintana. Ele disse: só existe duas idades: Ou você está vivo ou está morto. Acho que está viva, e muito. Aproveite.
Gostei do seu gentil comentário deixa no Vale...Um abraço.
Texto lindo e cheio de emoção, como é seu apanágio.
Nossos professores de redacção ensinaram-nos a pontuar, a escrever parágrafos, a desenvolver temas, mas nunca foram capazes de no tempo certo nos dizerem aquelas palavras mágicass: Ouse, arrisque, perca seus medos!
Mas nunca é tarde querida amiga, há que repor um passado que nunca foi e viver um presente como dádiva divina, estando atenta, olhando em redor e aproveitando para limpar a cegueira de um coração que ainda pulsa.
Beijos enorme cheio de saudades
Manu
Bom fim de semana:)!
Bjo
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