Ele chega pisando forte e vai logo avisando:
- Hoje, é o último dia de aula do curso de redação. O tema é livre, mas eu quero “sangue, suor e
lágrimas”. Quero a verdade na palavra escrita!
Nesse momento, vira-se em minha direção, sorri e completa: -
siga o fluxo de suas emoções e deixe que as palavras jorrem sem nenhuma
censura. Depois, olha discretamente para
o meu caderno de anotações, como se lhe adivinhasse o conteúdo e deixa-me a
sós. Preocupada, pergunto-me: será que ele viu a poesia, na qual eu ainda clamo
por tua presença? Sem resposta e sem saída, começo a escrever.
Nos dias de ócio, quando a casa está adormecida e o silêncio
arrasta-me para o quintal dos meus sonhos, eu fico ali quieta, no meio do
redemoinho das minhas emoções. Arredia, recuso-me a seguir os passos de um
sentimento que teima em derramar-se pelas pautas do meu caderno. Tento fechar as cortinas do passado, enquanto
luto bravamente contras às horas que passam lentamente, mas de nada adianta.
Ele surge nas minhas lembranças como um cavaleiro intrépido, traz desassossego
para a minha alma, desconstrói as certezas com as quais eu edifico os muros da
minha indiferença e, ainda exige de mim, coragem e atitude.
Então, rendo-me às evidências e percebo que não sou
proprietária do meu tempo, pois ele me espreita a toda hora, quando resolvo
apagar os vestígios da tua passagem pela minha vida. Já não luto mais! Deixo-me seduzir pelas
recordações, retiro o verbo do passado e murmuro: ainda penso em ti! Em seguida,
rabisco o teu nome nas folhas de papel em branco e deixo que o meu desejo crie
a mais bela poesia de amor. Depois, com a casa ainda adormecida e as
lembranças, agora, em voz alta, levanto-me devagar, olho-me no espelho e mapeio
as rugas do rosto, enquanto lembro o tempo que passou.
Nessa hora, uma dor lancinante faz o meu coração pulsar mais
forte, quando penso que tu fugiste dos meus olhos sem me dizer adeus.
Revoltada, pego os meus versos de amor e os faço em pedacinhos. Destruo a minha
verdade.
Porém, no dia seguinte, em sala de aula, quando vejo o
mestre aproximar-se de mim exigindo que eu costure o texto com “sangue, suor e
lágrimas”, sinto-me duplamente traída: por sua argúcia e por minha emoção.
Então, mais que depressa, guardo a poesia dentro do caderno
de anotações e começo a escrever, sob o olhar atento do professor de
redação.
Um comentário:
Sempre lindo te ler,Julieta!! E que bom te ver e poder te desejar um lindo e abençoado NATAL e que 2013 chegue sorrido! beijos,chica
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