Em um mundo onde a velocidade dos minutos nos leva a uma busca frenética por prazer a qualquer custo, como saber o rumo certo, se olho em volta e sinto que caminhei muitas léguas sem ter dado um passo sequer em direção ao conhecimento que liberta? Como sair da solidão abissal produzida pelos meios de comunicação, que a toda hora assedia-me com promessas de felicidade e bem-estar, tornando-me refém de um consumo desenfreado, sem limite? Onde, afinal, está essa tal felicidade que vemos estampada nos outdoors, nas vitrines das lojas, no pregão da bolsa de valores e na tecnologia do século XXI? Será que a resposta para tudo isso está no computador e na sua incrível tecla de gerar prazer e alegria: curti-kkkkk?
Nesse momento, lembro-me da velha máquina de escrever e penso na inutilidade das letras, pois ao longo do tempo já foram construídas imensas bibliotecas, lugar onde dormem palavras, orações e períodos que os homens em sua azáfama de viver, insistem em ignorar. Ali estão registrados tudo o que a experiência humana vivenciou, mas de nada serve nesse breve instante que se chama presente. Pensativa, continuo refletindo sobre o tempo e a sorte dos homens: agora, eles partem em direção ao abismo do transitório, encantados que são pelas luzes dos holofotes de uma época que se esvai, sem ao menos se darem conta de quão breve é a vida. Pobres homens! Ignoram os livros –memorial de lembranças - o passado, a história e esquecem de quantos semelhantes se expuseram em carne viva para que eles fossem mais felizes. Pobres homens, cegos, surdos e mudos dispensam o convívio, a ternura, o carinho e se deixam iludir como crianças por um brinquedo de faz de conta... Brinquedo que anda lhes roubando o tempo e, em troca, devolve-lhes a tão sonhada felicidade numa tecla só: curti-kkkkk!
Enfim, depois de tantos questionamentos, o sol que até então se mantinha ao meu lado silente e sorria da minha inocência e da minha incapacidade de ver o quão distante estávamos ao amanhecer, fixa os seus raios sobre a nuvem de prata que banha os meus cabelos e gentilmente me diz: entardeceste!
Um comentário:
Apenas uma palavra banal para lhe dizer: Curti!! Não aquele curtir efémero e que está à distância de uma tecla e sim um curtir que me leva a admirar o entardecer que nunca se esconde com as suas palavras. O mar no seu vaivém é como a Julieta que renasce todos os dias ao sabor de ventos, marés e brisas suaves.
Beijinhos minha amiga
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