Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

fevereiro 17, 2021

O Terço da Gratidão

 








Nesta manhã que principia uma quarta-feira de cinzas do ano 2021, eu dobro os meus joelhos diante da imagem do Sagrado Coração de Jesus e resgato a minha . O fio condutor para a prece que se inaugura foram os versos do poema de Janete Manacá:

“ - na ânsia de não me perder

ampliei tanto a visão

que vi flores nas

pedras do chão. ”

Sim, tenho visto flores nas pedras do chão nesta época de pandemia da Covid-19. Os meus olhos, antes enevoados, abriram-se para as graças em abundância que tenho recebido do Altíssimo. Por isso, se faz necessário, neste momento, rezar o terço da gratidão:

Graças eu vos dou, Meu Deus, pelo sopro de vida que ainda habita em minhas entranhas. Graças eu vos dou pelo pão que amanhece sobre a minha mesa, pela água que sacia a minha sede, pela luz que ilumina os meus passos, pelo trabalho que paga as minhas contas e pela precariedade que não bateu à porta da minha casa.

Graças eu vos dou, Meu Senhor, pela vida dos meus filhos, do meu neto, dos meus parentes e dos meus amigos. Graças eu vos dou por dialogar com a minha consciência e, por meio dela, resgatar em mim a , o respeito e a compaixão pelo outro.

Quantos ainda sofrem no leito de um hospital, outros à espera de uma vaga e, muitos ansiando pelo ar que lhes falta? Inúmeros já partiram sem poder despedir-se dos seus afetos, e milhares viraram estatística em um país em desgoverno. Tantos ficaram órfãos, outros perderam o emprego e, alguns o seu único ganha pão.

Meu Deus, quantos dos meus semelhantes vivem em asilos, em orfanatos, nas marquises dos edifícios, nas ruas da Cracolândia e nos mares da imigração abandonados à própria sorte? Quantos pegam em armas para defender uma guerra que não é sua? Quantos nas filas dos desempregados, nos sinais de trânsito e nas portas dos supermercados? E, até quando?

Por tudo isso é que, hoje, quarta-feira de cinzas do ano de 2021, eu lanço mão do poema de Janete Manacá e ponho a minha consciência de joelhos. Neste momento, faço das contas do meu terço, pedras/flores e rezo com gratidão.

Obrigada, Senhor!


Um comentário:

chica disse...

Lindo,Julieta! E temos que ter gratidão e expressá-la nas nossas preces. Tanto temos a agradecer .Pedimos sempre, mas agradecer não pode ser esquecido. beijos, tudo de bom,chica