
Os momentos pontuados pelo silêncio são inesquecíveis... Neles, o verbo cala e a alma, feito criança, espalha lembranças, saudades e brinca com o tempo. Passa a vida a limpo... Silenciosamente.
Há dias em que estou assim: silente! E, se me perguntam, por quê? Eu respondo: - a nudez das palavras ainda veste os meus lábios de poesia, mas me calo... Não quero mais pagar a fatura do abandono, da rejeição e do esquecimento com as minhas letras encharcadas de amor. Cansei!
E, por conta disso, vivo brigando com o tempo verbal da minha escrita. Valho-me da irregularidade do verbo ser para criar as minhas contradições. Ora conjugo-o no pretérito e peço abrigo ao passado, para não expor a nudez dos meus sentimentos; ora no presente, assumindo de vez a incoerência nas minhas palavras e reafirmando esse amor que nego tanto.
Alguns dirão que sou uma fraude! Mas, a quem interessa as minhas dores?
Escrever, nesse caso, é alinhavar palavras que doem, é expor a alma em doses homeopáticas, é lamber as feridas através do verbo, é tocar de leve na dor que lhe consome quando, na verdade, o fogo e o desespero lhe queimam por dentro, e o que você mais deseja é cobrar a fatura desse sofrimento que lhe rouba a paz e o sossego.
Por isso, me calo, distanciando-me do barulho e da nudez das palavras que denunciam a minha dor. Vivo apenas as lembranças e as saudades que cabem dentro de mim e, que não me comprometem, nem fazem sofrer.
Ao transitar, nesse momento, entre o passado e o presente, estabeleço um embate entre o desejo de falar sobre esse amor e as ranhuras que ele me fez, mas... Vence o silêncio da alma.