Reconstruindo Caminhos

Reconstruindo Caminhos
Escrevo porque chove saudades no terreno das minhas lembranças e na escrita eu deságuo as minhas urgências, curo velhas feridas e engano o relógio das horas trazendo o passado para brincar de aqui e agora... Costumo dizer que no calçadão da minha memória há sempre uma saudade de prontidão à espreita de que a linguagem da emoção faça barulho dentro de mim e que, nessa hora, o sal das minhas lágrimas aumente o brilho do meu olhar e uma inquietação ponha em desalinho o baú de onde emergem as minhas lembranças, para que eu possa, finalmente, render-me à folha de papel em branco...

julho 22, 2013

O Último Encontro






O silêncio da casa vazia lhe trouxe uma certeza: “não se pode deixar o amor para depois...”. Pensando nisso, lembrou-se do que ela lhe dissera naquele último encontro:

- Também já estive a me perder na ausência de ruídos, escutando apenas os próprios passos na solidão e quietude das noites enluaradas. Tempos difíceis, sem respostas aos meus anseios e as minhas inquietações...

Tua partida sem explicação motivou um desassossego interior, que transformou as minhas noites de sono, em noites de vigília... Não era a perda que doía, era a ausência de palavras. O descaso para com a minha dor...

Porém, o tempo, que leva tudo de arrasto, decidiu trabalhar a meu favor. Memórias, lembranças e miudezas do cotidiano, tudo o que foi importante subsiste, apesar dos anos... As boas recordações se avivam, enquanto vivo as “intermitências do coração”. É certo que, às vezes, a “memória involuntária” traz lixos emocionais oriundos das páginas viradas da minha história, mas nada que impeça a minha caminhada rumo à felicidade.

Por isso, resolvi: não quero que me fales mais sobre o teu amor com estes olhos de despedida... Estou cansada de sentir saudades! E, essa saudade não cabe mais no meu silêncio... Eu quero mais é invadir tua vida como um tsunami e espraiar a minha dor pelas margens do teu cotidiano, pois essa dor abissal não foi criação minha. Foi consequência de um mergulho profundo e consensual nas águas de um amor que tu dizias sem limite de tempo... Inamovível!

Não sei se te lembras, mas não te cobrei promessas inviáveis!?... Eternidade foi uma escolha tua, a senha para conquistar o meu coração e que o tempo provou ser uma falácia.

Então, não me venhas dizer que sentes saudades – ao olhar para a fotografia desbotada de um porta-retratos – e nem me peças outra oportunidade para provar a veracidade dos teus sentimentos, pois a minha resposta será sempre não.

Não, meu caro! Mil vezes não! Pois não sou usuária do sofrimento, tampouco da dor! Descobri-me inapta para a tristeza... Continuo me vestindo de felicidade todos os dias, mas, para que isso continue, preciso fechar essa porta que insistes em abrir a cada instante em que a solidão e o silêncio te incomodam e lembram-te de como era grande o meu amor, por ti.

Hoje, não há mais portas abertas! Não há mais sentimentos! Torno a dizer: o tempo, que leva tudo de arrasto, decidiu trabalhar a meu favor.

Deixei a porta entreaberta, sim, por um bom período e, esse tempo, foi importante para mim. Fui à luta, cuidei de mim, fiz uma faxina interna e verifiquei que as horas trabalharam a meu favor, pois, enquanto te esperava, descobri que a vida poderia ser bem melhor sem a presença desse teu amor aos pedaços. Amor de estações!

Por isso, agora, quando decido fechar a porta e tu vens, novamente, pedir outra chance... Eu te peço:

- Por favor, vê se me esquece!


Um comentário:

Dani Almeida disse...

Esse amor morreu mesmo ou sua morte é apenas uma metáfora?