Há pessoas que não sabem voltar. Perdem-se no caminho... Eu sou uma delas!
As linhas, na folha de papel em branco, parecem dançar na minha frente, ansiosas pelos desenhos da minha imaginação. Uma suave ondulação semelhante aos movimentos da linha e da agulha vai dando forma ao tecido, que ora se apresenta diante dos meus olhos. É a alfaiataria dos meus sonhos costurando as minhas letras, neste momento em que a emoção passeia por lugares longínquos em busca do tempo perdido.
Enquanto os meus olhos, hesitantes, passeiam pela folha de papel, os meus dedos cheios de ternura e de saudades teimam em escrever parágrafos inteiros de uma carta de amor que você jamais irá receber. Nesta hora, tropeço nas vírgulas e esbarro nos pontos e vírgulas em busca de uma pausa maior. É o intervalo necessário que eu preciso para analisar este amor que, hoje, repousa no arquivo morto das minhas memórias desafiando o tempo e os bordados da imaginação.
Arquivo morto é o nome que eu dei para as lembranças que teimam em ficar nos anais da minha história, somente para despertar o meu gosto pelas palavras, que chegam de mansinho, principalmente, quando a terra molhada de saudades umedece o plantio das minhas recordações... Mas descobri, escrevendo, que não sei voltar. O tempo aqui dentro – do coração - foi inexorável e desafiou a célebre frase do escritor José Américo de Almeida: - “Voltar é uma forma de renascer. Ninguém se perde na volta”. Eu me perdi! Perdi-me no caminho quando me descobri infértil, incapaz de gerar um sentimento de amor em você. Eu, um poço de carinho e de ternura, uma inimaginável fonte de paixão, romantismo e encantamento não fui capaz de seduzi-lo. No tapete das minhas fantasias, eu voei sozinha e, na alfaiataria dos meus sonhos, costurei palavras de um amor solitário. Dei-lhe o melhor de mim durante anos, esquecendo-me... Contava com você no meu projeto de felicidade, mas foi tudo em vão. Viajei sozinha e desenhei a sua ausência nas lágrimas que caiam em profusão. Foi aí que eu resolvi abrir o arquivo morto das minhas memórias: páginas e páginas viradas de um amor esquecido no tempo clamavam por um desfecho.
Então, fui desfazendo o bordado das minhas palavras e desfiei o meu amor por você, fio a fio. Neste momento, não há mais vírgulas, ponto e vírgulas, interrogações e exclamações. Já não há saudades. Coloquei um ponto final na alfaiataria dos meus sonhos.
Um comentário:
Lindo demais,Julieta..Cada palavra bem colocada,adorei! beijos, tudo de bom em 2014 , com muitas alegrias! chica
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