1964/1985. Houve um golpe. Havia armas. Mas, dentro delas, tremulava a bandeira da paixão e do amor. Tempos difíceis. Tempos de gaveta: de acordar e guardar sonhos...
O país estava em guerra. Uma guerra surda onde só se ouviam as vozes da ditadura. Ela, ainda menina, também travava consigo outra luta, onde se fazia escutar, apenas, o som descompassado do seu coração. Era um tum-tum-tum louco, desembestado, descendo a ladeira das suas veias, num vaivém sem fim, que só acabava quando o objeto do seu amor lhe consumia as carnes e acalmava o seu desejo. Era outro país dentro dela, uma pátria de intimidades que se sobrepunha a guerra lá fora... Ela acordara em si as vozes do amor e da paixão. Tudo ficava menor diante dessa descoberta, embora lhe consumisse, em chamas, a consciência do sangue derramado pela Pátria Mãe Gentil.
E, agora, 50 anos depois, ela continua sem entender nada dessa guerra que, entre mortos e feridos, restaram as chagas de uma dor que não passa e a solidão de um luto permanente.
O Brasil, meu amigo, continua de luto pelos filhos que não voltaram. E, eu, refém de um passado que anda sempre pelos vãos da memória, digo-lhe isto: “ só pra dizer que não falei das flores”. Flores mortas como as do outono, mas flores, também, da primavera que nos faz sempre voltar inteiros e continuar na luta pela paz e pela justiça social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário