Naquela altura, eu consultei o acervo da memória e dei liberdade para que o pensamento corresse sem rédeas deixando, dessa forma, que o meu destino fosse selado nos bordados da imaginação. Pensei: - preciso olhar para o que foi vivido sem ter medo de reinventar a minha trajetória e/ou essa é a oportunidade de estrear uma nova vida?
Naquele momento, depois do susto, algo estava me tirando do lugar, da zona de conforto e pedia, com insistência, que eu revisitasse o porão da minha alma. Alguma coisa me dizia que ali havia percursos a serem corrigidos tanto em manhãs de silêncio e quietude, como em tardes de temporal. Ainda marcada pela dor, pelo assombro, diante do inesperado, com dúvidas, inquietações e, sem despertar para as possibilidades não cogitadas, eu continuei indagando:
- A minha vida sempre foi muito morna... E, os meus olhos pouco acostumados a novidades e a deslumbramentos... O que fazer agora com essa possibilidade de reconstruir o caminho? Ou será que daqui por diante tudo deverá ser diferente? Naquela hora, lembrei de quem eu era e de que maneira deveria me desconstruir, se quisesse ter a minha iniciação nas coisas nunca antes provadas...
O rufar dos tambores ainda ecoava em minha cabeça como uma saudação efusiva pela vitória contra a “indesejada das gentes”, no entanto, algo me dizia que eu precisava mudar e, com certa urgência. Nada mais seria como antes... Os passos sempre ausentes da agitação dos dias, da efervescência das noitadas, dos encontros e desencontros, dos amores passageiros e das muitas viagens e festas perdidas, reclamavam por uma nova postura: precisava me libertar do cotidiano e da vida morna para estrear outra forma de viver.
Com essa ideia martelando na cabeça deixei os dias fluírem sem dar muita importância aos apelos mundanos e, só tempos depois, fui consultar o meu coração: um lugar onde razão e sensibilidade se digladiavam. Havia revisitado o porão da minha alma e constatado que a soma de afetos recolhidos pelo tempo me autorizava a começar uma vida nova, pois nada nem ninguém era tão importante que não pudesse ser esquecido... Será? Perguntei-me.
Então, de súbito, no sítio da minha memória se redesenhou uma imagem e um desejo atemporal: viver um grande amor! Lembrei-me do passado, das coisas e pessoas que havia deixado para trás e dos sonhos abortados. Naquele instante, eu desisti das possibilidades não cogitadas e de estrear outra forma de viver. Pensei: - vou continuar reconstruindo caminhos. Quem sabe, um dia, ao brincar com as palavras eu possa escrever... Final Feliz!
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