Meu querido,
O escritor moçambicano Mia Couto nos diz que: “morto amado nunca para de morrer”. É verdade! Não é fácil se despedir, fechar portas e partir sem olhar para trás. Não sou dona do meu pensamento. Ele habita sítios de memórias e, vez ou outra, o senhor do lado esquerdo reclama a tua ausência. Nessa hora, sento-me diante do computador e os meus dedos executam uma dança cheia de alegria e esperança. É a coreografia dos meus sonhos, costurando lembranças e tecendo os fios do tempo para trazer-te de volta, pois à beira do abismo da tua ausência eu sempre crio asas e no tapete da imaginação, alço voos inimagináveis, sem as amarras das convenções. E é sobre isso que desejo escrever-te agora. Vou despir-me novamente em letras e fazer strip-tease dessa alma cansada de tanto esperar por ti.
Amo-te! Isso é fato. Quando partiste o meu coração ainda não estava pronto para te perder, uma parte de mim foi embora contigo e a outra ficou tropeçando nos restos de lembranças de nós dois. Por isso, escrevo, para juntar pedaços e reconstruir os caminhos que não palmilhamos juntos. Com as palavras eu teço um cobertor de ternuras e te cubro de amor nas noites de frio. Sou toda mulherzinha! Ponho a mesa e forro a cama. Rodopio em fantasias... Sou toda tua! Mas, as páginas em branco do amor que não vivemos, ainda continuam a me ferir o corpo e a alma. Não quero mais negar isso. Cansei de retocar a falsa porcelana do meu orgulho. Quero, a partir de agora, te acariciar com as palavras e atropelar as horas para que possamos, finalmente, ficar juntos e contar segredos de confessionário, entre beijos e murmúrios...
Por essa razão, eu te peço: vem! Mas vem logo, antes que eu te diga que é só uma tola saudade, essa mania de escrever cartas de amor, quando a canção da chuva toca de leve na janela do meu quarto... É que chove, lá fora!
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