Quando eu ouvi, pela primeira vez, Isabella Perazzo tocar a música “Tristesse” do compositor Frédéric Chopin, senti-me aquecida. Naquele dia, as teclas do piano despertaram memórias de um tempo sem luto, nem pandemia. Os primeiros acordes anunciaram que a saudade daria plantão. Então, percorri com delicadeza, em passos de feltro, todo o chão da minha casa, explorando cada lugar dessa pátria de intimidades. Lá, encontrei a sala do piano. Um recanto para o deleite, para ouvir Chopin, Mozart, Beethoven, Schubert, Debussy, entre outros. Eu era criança, naquela época, com a idade entre sete e oito anos. À noite, logo após o jantar, dirigia-me à sala do piano e ficava horas a fio ouvindo, embevecida, a minha tia Laíce dedilhar as suas canções preferidas. Às vezes, a música era tão triste e melancólica que o meu corpo doía de falta, de ausência. A inocência da infância não sabia atribuir um nome àquele sofrimento. Ainda assim, a sala do piano era o meu lugar preferido da casa. Gostava de percorrer as teclas daquele instrumento musical e delas tirar algum som. Mas, ao contrário de todas as minhas tias e de minha mãe, eu não nasci com o dom para a música. Na idade adulta até tentei, porém fui incapaz de ler uma partitura sequer. Quando os primeiros acordes eram tocados e a canção invadia a sala, chovia em meus olhos e a pele arrepiava. Nunca consegui dominar esta emoção! Talvez, pelo fato de meu pai, em um momento de crise financeira, ter se desfeito do piano e com este ter ido embora tanto o meu sonho de torna-me pianista, quanto a liturgia de um momento que para mim era sagrado.
Por isso, senti-me aquecida quando escutei Isabella Perazzo tocar a música “Tristesse”. Ouví-la, quebrou a rotina dos meus dias de quarentena e transportou-me para um lugar mágico, sem palavras, nem despedidas...A sala do piano.
Um comentário:
Linda viagem possível nessa quarentena...Uma volta ao passado ,à sala de piano! Lindo te ler! bjs, tudo de bom,chica
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