Senhor, eu não estou pronta, mas continuo aqui em pleno inverno da alma clamando pela Tua Presença. Um “tsunami” devastou o terreno dos meus afetos e a árvore da vida que servia de abrigo para o pássaro descansar, clama por misericórdia. O ninho está vazio e o ventre estéril ousa perguntar, ainda que conheça a resposta:
- Senhor, por que, eu?
- E, por que não!? O Senhor me responde.
Desolada, eu busco alívio nas teclas do computador... Indecisa, cato letras para semeadura, embora saiba que o solo está impróprio para o cultivo, apesar de úmido. É tempo de travessia e de dor. É tempo de chorar. Então, eu escrevo e choro.
Escrevo porque se as minhas mãos são capazes de gerar palavras de vida, morte, amor e saudades, também serão capazes de suportar o silêncio e o deserto, especialmente, quando eu entendo que morrer é verbo sem tempo que não ameniza a dor. Por esta razão, lembrando do que disse a escritora Hilda Lucas: - "Escrever sempre me devolveu o rumo, o centro, a sanidade, a paz, a posse da minha história”, eu continuo chorando e catando letras em terreno infértil e pedregoso.
Neste momento, estou em busca de mim. Quero me reinventar, preciso me reerguer. Por isso, eu clamo pela Tua Presença e teço palavras como quem tece uma manta, para me aquecer no inverno da alma. Necessito redescobrir quem eu era antes de ser ventre, pois o ninho vazio expõe a minha fragilidade e cobra o preço das escolhas do passado. Quem eu sou agora, quando o primogênito bateu as asas e saiu de casa para não mais voltar? Justo agora, no entardecer dos meus dias, quando o ventre está estéril e uma nova semeadura não é mais possível. Preciso apaziguar a minha alma para viver este tempo de silêncio, saudade e solidão. Se faz necessário, neste instante, viver o deserto que se aproxima e, ainda assim, em mãos postas dizer:
- Meu Deus, em tudo eu vos dou Graças, porque eu tudo posso Naquele que me fortalece. Gratidão, pelo sofrimento! É ele quem me ensina a ser uma pessoa melhor e me faz concordar com a Tua resposta, neste tempo de travessia e de dor.
- E, por que, não eu!?