Num entardecer feito de sonhos, onde o outono – ante-sala das lágrimas do céu – executa no ar o balé das folhas secas e nos remete de volta ao passado, eu aquieto as minhas dores visitando o antigo porão. Lá, adormecida em um velho baú e distante das garras do efêmero, guardei a minha coleção de saudades: são cartas, fotos e pequenas lembranças, miudezas de um tempo que um dia sonhou com a eternidade.
O vento frio que açoita a minha alma, neste momento, abre a janela do meu coração e eu me rendo diante da evidência de uma saudade tão teimosa: é você outra vez, povoando os meus sonhos juvenis. Tenho em mãos o velho baú e dentro dele reminiscências de nós dois que, uma a uma, vão assumindo o controle do meu pensamento, abastecendo de alegria, de emoção e de sorriso - o mesmo sorriso fácil que naquela época espelhava a nossa felicidade – os meus dias atuais.
Vivo assim, imersa em saudades e, por isso, quando a solidão me visita não me encontra despovoada. Em terreno fecundo plantei boas recordações e no meu sítio de memórias a colheita é sempre abundante. Aqui, nos espaços interiores onde caminho silenciosamente e as ausências são mais sentidas, faço-me peregrina das boas lembranças e transformo o meu cotidiano em um novo celeiro de felicidades.
3 comentários:
Olá Julieta, que texto tão bonito, emocionou-me!
Parabéns
Gostei muito daquela frase que deixou lá no blog do Jorge C. Reis, " Quanto silêncio e sofrimento é capaz de guardar um mar tão belo"
Parabéns por esta frase também!
Beijinhos
Bom fim de semana
Julieta,
Que texto sensível! Eu tenho saudades de muitas coisas e pessoas, principalmente da minha infância e dos amigos que moram longe...
Bjos e boa semana!
Paulinha
Que texto bonito, Juliêta. Bonito e triste. E você ainda diz que quer escrever bem??
Depois do seu texto, minha saudade até aumentou.
bjs
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