Abro a
página do Word e uma tela em branco me desafia. Lá fora, as notícias sobre a
visita do papa; os jovens em marcha redescobrindo a força da sua juventude e a
chama dos seus ideais; o grito desesperado dos excluídos de todos os credos e
uma variedade de assuntos pode, sem dúvida, preencher as páginas em branco desta
tela. Mas, lá fora, a canção da chuva também desperta a minha emoção e tira-me
o foco das manchetes dos jornais e revistas. Nela, eu me reencontro vendo a
vida passar em câmara lenta, enquanto no meu coração desfila uma coleção de
saudades. Então, nessa hora, lembro-me de uma frase que li:
- “A vida vivida não
passa de tempo perdido...”, que eu ouso recuperar através das minhas lembranças, na
tentativa de estancar o fluxo das horas e acalmar o meu coração em desalinho.
Ah, tempo,
como sabes ser cruel! Um dia, quando eu mais precisar de ti, para revolver o
meu passado e ordenar as minhas ideias, as palavras irão me distrair deixando
um silêncio constrangedor ao meu redor... Silêncio e solidão! Mas, enquanto o futuro não vem, eu faço a festa
desse instante em que a chuva, lá fora, traz reminiscências de um passado ainda
tão recente. Nesse momento, eu abro a minha coleção de saudades e penso: - a
vida é uma eterna despedida. Estamos sempre desembarcando em algum porto,
deixando pelo caminho, passos, sonhos, amores, esperanças e saudades. Preciso
aproveitar melhor o instante, pois como disse o mestre Rubem Alves: “O sol
que se põe é triste, orgasmo final de luzes e cores que se vão”. E, com
ele, acenando-me com o vazio, se vão, também, os meus sonhos desbotados...
Por isso, agora,
quando a canção da chuva toca lá fora e a minha memória parece um tecido
esgarçado, tentando resgatar o tempo, eu vou à procura de um momento que tenha
valido à pena, recolho os fios um a um e, com eles, teço as minhas palavras
fazendo das minhas recordações uma colcha de retalhos para cobrir-me nas noites
de inverno. Neles, nos fios, eu encontro vida através das lembranças que chegam
devagarzinho...
Uma casinha no interior, um pequeno jardim e
um quintal cheio de rosas... Tu e eu... A cozinha... A rosa... A epifania de um instante preservado na
memória pela a vida inteira. Saudades!
2 comentários:
“O sol que se põe é triste, orgasmo final de luzes e cores que se vão”
AMEI o texto, conheci seu blog através de outros blogs amigos e já estou te seguindo! Muita coisa inspiradora por aqui. Parabéns!!
http://diariodabrunet.blogspot.com.br/
Lindo,Julieta e preservar na memória momentos que nos fazem bem é o melhor possível, além de viver o presente. beijos,chica
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