Encontrei o amigo Fred Arruda na Farmácia Pague Menos, do Bessa, e ele me desafiou a escrever um texto sobre o pé de cajá que tínhamos na casa da Vila Nova da Rainha, em Campina Grande. De imediato, expliquei-lhe que não escrevia há mais de um ano e que escrever para mim era e continua sendo um exercício de aprendizado. Não sou, nem tenho competência, nem pretensão de ser escritora. Escrevo, porque sinto saudades! Quando tento alinhavar as palavras, o lápis ou o teclado do computador não obedecem às minhas ordens. É a minha pele quem comanda, fala, arrepia, vibra e se emociona. Sou movida a emoção! Quando ela se manifesta, os meus dedos deslizam sobre as teclas do computador e uma dança festiva de letras, comemoram o assunto em pauta. Hoje, o Pé de Cajá da minha infância!
Lá fora, chove! Ela, a chuva, traz lembranças que desfilam no meu sítio de memórias. Logo cedo, quando o galo ainda cantava anunciando que o dia amanhecia, eu era convidada por Mãe Júlia a apanhar todos os cajás que as minhas mãos infantis pudessem recolher daquele chão amarelado de pequenos frutos. Logo, aqueles frutos se transformariam em um delicioso suco, para acompanhar o café da manhã. Às vezes, uma chuva fina caia como lágrimas do céu, abençoando aquele momento. Quantas saudades sinto daquele instante, quando o cheiro da terra se misturava ao perfume da fruta e trazia tantas alegrias e descobertas aos meus dias. Logo, logo, a casa se enchia de amigos e de outras crianças, como você Fred, encantadas pelo pé de cajá e ansiosas por disputarem espaço na colheita daquele fruto tão saboroso. Quantas disputas para ver quem pegava mais cajás... Ao redor dele, brincávamos de bola de gude, contávamos histórias, fazíamos planos para o futuro e descansávamos o pensamento. Na época do São João, acendíamos a nossa fogueira, sempre com cuidado e distância necessária, para não danificar as suas raízes. Depois, soltávamos fogos de artifício, que iluminavam a noite e davam brilho e um colorido intenso aos nossos dias, ressaltando também a majestade daquele gigante pé de cajá, que parecia desafiar o céu. Desafio que o relógio do tempo não perdoou.
Hoje, o pé de cajá da minha infância sobrevive apenas nas minhas lembranças, nas suas Fred e, quiçá, de algum desavisado que ainda não aprendeu a substituir o cheiro da fruta, o perfume da terra e toda a gama de sensações provocadas pela evocação de um nome, por coisas de somenos importância. Ele foi transformado e engolido pela ação do homem. O progresso, a vaidade humana, o relógio inclemente, cruel e impiedoso do tempo ignorou os meus planos para o futuro e as saudades de uma infância feliz, erguendo no lugar do nosso pé de cajá, a poesia concreta dos arranha-céus. Obrigada, Fred, pelo nosso encontro, bate-papo e pelo desafio. Por causa dele eu pude sentir de novo o sabor da fruta e das recordações, quando deixei os meus dedos e as palavras serpentearem pelas teclas do computador.
Um comentário:
Acho todos temos os nossos "pés de cajá", metáfora para uma saudade infantil. No meu caso, o flamboyant vermelho e o balanço improvisado me recorda uma saudade que o tempo e a vida levaram. Por outro lado, esse local privilegiado para onde vão as lembranças mais doces, blinda minha memória e a protege da ação do tempo e dos homens. Lindo texto.
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