Através da janela daquele ônibus que a levava, agora, a um destino certo, ela viu passar uma a uma as suas lembranças. A lágrima furtiva que teimava em cair denunciava que uma dor estava prestes a partir. Simbolicamente, aquela última parada, de uma viagem de muitos dias, significava um ponto final tantas vezes ensaiado em sua antiga história de amor.
Com o olhar perdido em um mar de lembranças, ela tentava conter aquela torrente de saudades que desfilavam na mesma velocidade com que trafegava o ônibus. Como ela desejava que o motorista fosse solidário com a sua dor e acelerasse a 380 km por hora a fim de acabar todo aquele tormento.
Anos a fio viajando com uma mala velha cheia de recordações dolorosas e, só agora, lhe parecia um peso insuportável de se levar.
Uma dor lancinante lhe indicava que estava na hora de enterrar os seus mortos. Pausadamente, ela colocou a mala no chão e foi tirando peça por peça, numa tentativa de esvaziar também aquela dor que lhe oprimia o peito. Um oceano de lágrimas jorrou em sua face e ela prometeu a si mesma nunca mais amar igual.
(...)
E o deixou, finalmente, abandonando ali as suas saudades.
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