Mal o dia nasceu e lá fora a chuva cai intermitente trazendo desconforto a minha alma. Dentro de casa, a televisão ligada põe em desalinho os meus olhos diante das notícias de Brumadinho-MG, sobre a queda da barragem. Muitos mortos, desaparecidos, famílias inteiras perplexas, sem-teto, sem notícias, sem rumo, sem esperança. Tento resgatar a paz de espírito, no entanto, mergulho cada vez mais no avesso dos pensamentos e, estupefata, constato que a imobilidade, a inércia, o egoísmo, a omissão fizeram morada no meu espírito desviando a atenção para uma zona de conforto, há muito desejada: existe um culpado e, este, não sou eu! Pronto, já posso fechar a cortina dos olhos, dormir o sono dos justos. Não! O ruído das horas, os holofotes da memória, a consciência – essa sentinela para a paz - vigilantes, anunciam o resgate da minha alma que, em confissão, reconhece a sua parcela de culpa e pede perdão! Perdão pelas palavras de indignação abortadas em praça pública, pelo silêncio obsequioso quando o clamor das minorias pedia aderência, pela embriaguez do conforto e da sedução do poder. Perdão pela covardia, pela subserviência. Por ter me omitido, quando se fazia necessário subir ao palanque, pegar as armas do pensamento, das ideias, das palavras e discursar sobre cidadania, direitos humanos. Perdão por ter ficado em cima do muro, pelo conforto das contas pagas, do emprego garantido nas coxias do poder, das viagens, do caviar e do espocar do champanhe, quando o reles chão da Pátria Amada é a morada da maioria dos sem-teto, sem destino e sem esperança. Perdão pela omissão e covardia que colocaram os meus irmãos de Brumadinho-MG, no exílio, para uma pátria de onde não tem volta.
Crédito de Imagem: Douglas Magno/AFP - G1
Um comentário:
Mais uma tragédia anunciada infelizmente aconteceu!TRISTE! bjs praianos,chica
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