Nessa época de pandemia da Covid-19, quando o isolamento social se impõe e sobra tempo para as lembranças, faz-se necessário ouvir o apelo do nosso coração e deixar que o cotidiano seja a pauta a derramar-se pelas teclas do computador.
Era o ano de 1955/56 quando eu, menina, acompanhada por Mãe Julia, Laíce e meu Irmão Francisco nos dirigíamos para o curral, localizado nos fundos da casa grande de tia Creuza. Lá, ela ordenhava as suas vacas e nos servia um leite morninho, misturados com o açúcar e a canela, que havíamos colocado em nossos copos, antes de sairmos da nossa casa. Após apreciar a bebida, Mãe Júlia e os outros tinham pressa em voltar para os afazeres domésticos. Eu, não! Gostava de brincar com os animais, de montar nos cavalos mansos e de subir nos muros, para recolher as buchas vegetais que abundavam por cima dos telhados. Com elas, nós tomávamos banho de verdade, com direito a esfoliação de pele e retirada do grude, aquela sujeirinha que a preguiça não reconhecia. É, hoje, é dia de saudades! A Covid-19 recolheu as suas garras e, por enquanto, está passando longe de mim, pela Graça e Misericórdia de Deus! Por isso, aproprio-me das recordações, recém-saídas do berço da memória, e faço delas uma colcha de retalhos, para agasalhar-me, nesse momento, em que as horas passam lentas e arrastadas. Como é importante ter boas lembranças, quando a solidão é nossa única companhia! E, eu tenho. A minha tia Creuza é uma delas!
Lembro-me de nós duas nas matinês do Cine Capitólio, em Campina Grande, assistindo aos filmes: E o Vento Levou, Cleópatra, Dr. Jivago, entre tantos. E, de como chorávamos, disfarçadamente, quando a película era triste e romântica. Em compensação, saíamos do cinema felizes porque logo chegaríamos à sorveteria Flórida, para tomar sorvete de castanha e ameixa. Era uma festa! Ainda, hoje, é o meu sorvete preferido!
Escrever sobre você, nesse momento, é tocar as teclas do computador e, nelas, deixar vir à tona as saudades que sinto da sua luz, da sua alegria, do seu carinho e da admiração que sinto, sobretudo, pela sua coragem de povoar o mundo com tantos rebentos. Não existem mais mulheres assim, com tanta valentia e disposição, nos tempos atuais. Você criou um tempo mágico e fez as suas horas se multiplicarem, de acordo com a necessidade do outro. E, não havia reclamações, nem cansaço, tampouco uma recusa, quando o outro era o filho que exigia mais atenção, cuidado ou que, ao fim de toda essa jornada diária, ainda lhe pedia para sentar-se ao piano e dedilhar o tango La Cumparsita, coisa que executava com paixão. Ah! Tia Creuza, escrever sobre você me trouxe de volta a um tempo feliz e renovou as minhas esperanças por dias melhores. Obrigada!
Um comentário:
Que coisa linda revirar o baú da memória ,nesses dias de quarentena, e lá encontrar recordações tão legais como essa cheia de saudades da Tia Creuza! Adorei! beijos, tudo de bom,TE CUIDA! chica
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